Google+ minha casa, meu mundo: Morte

6 de maio de 2009

Morte

Estas últimas duas semanas têm sido complicadas.
Meu avô materno está na UTI, aos 91 anos já sofreu 3 AVCs e algumas paradas cardíacas. Com sinceridade, não fico comovida com a morte de uma pessoa que viveu tanto! O que me incomoda é constatar o quanto esta morte precisa ser dolorida! Com todos os equipamentos de uma UTI qualquer pessoa sobrevive até que seu cérebro morra. São os tais avanços da medicina... Avanços?
Sinceramente, no caso de uma pessoa que já viveu tanto e está completamente senil, é apenas sofrimento. Sofrimento prolongado ao extremo, até o momento em que o corpo não o suporta mais e arrebenta como a corda de um violino que é muito esticada.
Quem já viu o lento definhar de um idoso em uma UTI sabe bem do que estou falando.
Muito mais digno, humanitário e justo permitir que o idoso simplesmente se vá, de preferência no aconchego de sua casa, em sua cama. Como morremos durante séculos e séculos e séculos. Por que hoje somos obrigados a morrer em um hospital, entubados e sentindo uma dor infinita? Qual a razão para prolongarmos o sofrimento ao extremo? E não me diga que não se sente dor!
E se a pessoa está inconsciente (meu avô não está, contrariando todas as expectativas), qual a razão de manter vivo um corpo que não sustenta mais a vida? E nunca mais poderá sustentar?
Não gosto de hospitais quando eles viram a antecâmera da morte, quando servem apenas e tão somente para prolongar indefinidamente a dor de um corpo que em verdade já morreu. Não suporto presenciar esta dor! Não vou, porque não quero espiar por uma janelinha esta lenta morte em vida.
Sou fraca? Sob o prisma de quem acha o prolongamento da dor uma alternativa válida, sim sou fraca.
Mas não tenho medo da morte e a aceito como desfecho necessário da vida.
Nossa cultura caminhou até o ponto de total negação da morte, temos medo, não aceitamos, nos revoltamos, não sabemos o que fazer e não admitimos a idéia de um ente querido morrer em casa, em sua cama, cercado pelas pessoas que ama.
Do que um morimbundo precisa mais? De tubos que o mantém vivo ou da presença de quem ele ama, reafirmando a vida que viveu?
Quero morrer em casa, porque as vezes acho que a medicina foi longe demais.

****

De outro lado, os hospitais me parecem o palco de milagres que espero ansiosamente que aconteçam todos os dias.
Minha tia Ledi foi operada na terça passada, tirou um tumor enooorrme do abdômem e tudo mais... ainda não pude visitá-la (primeiro rotavirus e depois gripe), mas hoje estamos sem vírus aqui em casa e vou vê-la, porque tô com saudades e sei que ela vai sair desta e ainda vai ter muitos e muitos anos de vida pela frente.
E como as artesãs não morrem de tédio, nem quando estão internadas, vou levar-lhe novelos de lã, que é para ela tricotar uma blusa linda!
E quando estamos falando de salvar uma pessoa cheia de vida e alegria que luta para continuar vivendo e tem a lucidez dos planos e projetos que traçou, então a medicina é milagrosa e graças a Deus existe a UTI.
Porque minha querida madrinha ainda tem muitos bolos de chocolate para fazer!!!

10 comentários:

  1. Concordo com cada letra que você escreveu e também acho que as pessoas precisam ter diguinidade na hora da morte e nossa sociedade não entende isso.
    Para ser até mais fria, quanto não se gasta para manter uma pessoa como o seu avô viva? Eu penso que esses investimentos deveriam ir para a prevenção na área da saúde, a fim de evitar que as pessoas vivam tão mal, adoeçam irreversivelmente e morram nas portas dos hostpitais públicos sem socorro.
    Mas falando com o coração, espero que Deus tenha misericórdia do seu avô e permita que ele descanse e que sua tia se resstabeleça logo. Não se esqueça de postar a foto da blusa, viu!
    ;)

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  2. Amiga, concordo com você.
    Minha avó paterna morreu com 93 anos no hospital.
    Já não estava muito lúcida quando morreu.
    Mas enquanto estava lucida, pedia sempre para morrer em casa. A nossa casa é o nosso mundo, é a nossa casca. Porque temos que ir morrer em lugar estranho?
    Acho que por vezes não nos conseguimos desprender e encarar que as pessoas já viveram por tempo demais. Continuamos acreditando que se prolongarmos a vida de quem nos é querido por mais tempo, é o melhor.
    Às vezes temos que deixar as pessoas ir.
    Beijos

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  3. emocionei com o que vc leu. Isso vai de encontro com o que a medicina paliativista propoe.. e tao pouco utilizada aqui no nosso pais, infelizmente. Tenho uma amiga paliativista e o avo dela foi pioneiro nisso por aqui.. e claro, qse ng compreende esse pensamento, essa escolha.. =(
    Que seu avo e vc fiquem em paz. Patricia

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  4. A vida é assim: nascemos, crescemos, vivemos e depois morremos... pelo menos para esta vida. Que seu avô tenha muita paz, luz e que o sofrimento seja breve. Parabéns pelo seu modo de pensar.

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  5. Desejo paz para seu vovô querido e muita saúde para a madrinha!

    Bjs

    Patricia

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  6. Lu, concordo com voce, eu acho um absurdo colocarem e os medicos mandarem as pessoas que tem uma idade avançada para o hospital, em tubos, sozinhas num lugar que nao é delas. È um crime os medicos fazerem isso. Lembro da minha avó que estava com um cancer que nao tinha cura e foi "tratada" na casa dela, ela morreu na cama dela com todos sempre por perto, sem médicos querendo "milagres". Ela sempre dizia que não se importava com o que iria vir, ela tinha vivido muito bem e tinha aproveitado cada momento da vida e que agora era hora de nós fazermos a nossa marca na vida. Ela foi a pessoa mais maravilhosa que tive e mais sábia.
    ELa tinha diabetes e até doces ela comeu no final da vida. Quando ela voltava dos comas e queria comer algum doce, davamos e controlavamos com a insulina.
    Eu, quando ficar velhinha já vou avisar que não quero nada de hospital que deixem a vida tomar seu rumo natural

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  7. Meu avô continua "estável", seja lá o que signifique isso no jargão médico.
    Minha tia esta ótima, nos limites de uma pessoa que sofreu uma cirurgia deste tamanho! Andando por tudo e louca de vontade de ir para casa, e vai amanhã.
    Adorou a cor da lã e vai tricotar quando chegar em casa... está sendo bem atendida e bem tratada e hoje distribuiu caixas de bombom para as enfermeiras que mais gosta. É uma bela figura esta minha madrinha! Uma pessoa boa como poucas conheci na vida!
    Obrigada pelas mensagens de carinho, é tão reconfortante recebê-las!
    Mando notícias
    Lu

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  8. Graças a Deus, meu avô querido não passou por isso. Ele sempre dizia que queria morrer de uma hora para outra, sem deixar ninguém sofrer, e nem dar trabalho para ninguém. E ele foi abençoado e dia 03 de marçco desse ano ele se foi, estava saindo para trabalhar quando passou mau, foi ao hospital e o coração não resistiu.
    Foi tudo muito rápido, mas isso nos conforta, pois a saudades é muita, mas também ficamos muito feliz pois Deus foi piedoso com ele, foi como ele sempre quiz.
    Espero que Deus tenha piedade de seu avô.
    Saúde e felicidades a sua madrinha.
    beijos de uma amiga.... DAFNE - Boituva

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  9. Um beijo doce e que guardes eternamente boas lembranças! ****

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  10. Mexeu muito comigo tudo o que vc escreveu aqui...tenho minha mãe com 94 anos,mora comigo,sofre de Mal de Parckinson,depende totalmente de mim.Fico pensando por que viver tanto mas sem qualidade de vida.Sofre ela sofro eu.Mas é a vida...peço a Deus que o dia em que ela partir seja tb longe de hospitais.
    beijo grande
    Necca

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Obrigada pela visita!

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