Uma história de amor

Conheço o Leo desde a pré-adolescência, morávamos perto e fazíamos parte da mesma “turma do bairro”. Quando eu tinha 16 e ele 18 começamos a namorar, era uma delícia nosso relacionamento adolescente, entremeado de dramas, idas e vindas espetaculares. Até um dia que terminamos, ele me traiu como todos os meninos de 20 anos fazem… na época não consegui perceber o quanto aquela traição era insignificante diante do sentimento que nos unia, mas eu tinha apenas 18 anos e a vida se mostrava repleta de oportunidades.

Desde o primeiro dia do término ele fez tudo para voltarmos. Flores, todos os dias um buquê com um verso da nossa música (que é muito brega e não conto nem sob tortura), fitas gravadas, chutes no carro do meu novo namoradinho, escândalos na porta de casa, flores no intervalo das aulas… por quase um ano ele fez o impossível para voltarmos.

E eu lá, firme e deslumbrada com minha estréia triunfal na universidade. Esnobei como apenas podem fazer aquelas que tem certeza do amor do outro.

Um belo dia ele me procurou e disse que tinha comprado passagens para Paris para nós dois, porque lá tudo seria esquecido (esse moço sempre soube das coisas). E eu: lógico que esnobei e nem me passou pela cabeça a possibilidade de ir. Ele me esperou até o último minuto e embarcou sozinho.

Mas o destino prega peças inacreditáveis… ao lado dele sentou uma moça, também sozinha. Ele conversou com a moça e acabou acompanhando-a na viagem pela Europa. Um belo dia recebo um cartão da Tour Eiffel com um pedido de desculpas, onde ele me contava que tinha beijado a dita moça… resultado, voltou de lá namorando com ela.

Ele voltou da viagem e me procurou, se eu não voltasse a namorar ele iria casar com a dita moça… e eu evidentemente esnobei! Mas ele disse que um dia nos encontraríamos em um supermercado em Paris, comprando queijos…

Ela, por ironia máxima do destino, era minha vizinha de prédio em Curitiba, resultado: ele ia na casa dela e passava na minha depois, sempre pedindo para voltar e eu dizendo não. Com o tempo desapareceu e um dia me procurou na faculdade e pediu para voltar mais uma vez, caso contrário iria ficar noivo. Eu? Esnobei é claro… ele voltou para mostrar as alianças…

Ficamos um tempo sem nos ver e ele me procurava cada vez menos. Eu levava minha vida e não me preocupava com o assunto porque tinha certeza de que não sentia mais nada por ele e realmente, naquele momento, aquele relacionamento não fazia parte da minha vida, trilhávamos caminhos opostos em tudo.

Em uma madrugada ele me ligou meio bêbado, me contou  que iria casar no dia seguinte e  fulminou: eu te amo, você é a mulher da minha vida,  me dê apenas uma chance e eu não caso. Continuou dizendo que não queria casar, queria apenas uma chance de provar o quanto me amava e que poderia me fazer feliz.

Eu ? Ora… do alto da minha prepotência mandei ele tomar um café forte e casar!!! E ele? Casou… alguns dias depois vi a foto do casamento no jornal e percebi a besteira que tinha feito… mas daí já tinha perdido minha oportunidade… e não pensei mais no assunto. Segui adiante e casei dois anos depois.

Durante dez anos nos encontramos apenas uma vez, por acaso em uma pousada. Eu com meu marido e ele com a esposa. Fizemos de conta que não nos vimos… Passou e seguimos adiante.

Alguns anos depois ele me ligou, tinha sonhado que eu chamava por ele e pedia ajuda. Queria saber se eu estava bem. Não, eu não estava bem, estava em um processo de separação dificílimo e muito, muito doente. Mas menti e disse que estava tudo bem, nem contei da separação. Ele insistia em me ver, mas eu desconversei, morava longe em outra cidade e disse vagamente que um dia, quando estivesse em Curitiba, tomaríamos um café… não o procurei.

Meses depois me separei e fiz uma longa viagem para a França. Enquanto andava pelas ruas de Paris pensava em minha vida, nas escolhas que tinha feito e foi impossível não pensar no Leo e em todo o amor que eu sabia que ele ainda sentia. Lembrei do quanto éramos parecidos em tudo, o quanto éramos felizes. E também na minha personalidade prepotente que não perdoava nunca… pensava e inconscientemente acalentava a idéia de encontra-lo em um mercado de Paris… mas não passava de um devaneio… sem perceber eu procurava por ele…

Voltei e esqueci o assunto, porque minha realidade me consumia. Continuava doente e com um ex-casamento que não se resolvia.

Passados 3 meses eu sonhei com ele, era 22 de janeiro de 2002. Sonhei que eu pedia ajuda… Acordei, procurei no google e telefonei… passado o susto, a primeira hora de conversa foi sobre amenidades, sobre nossas vidas nos últimos 14 anos desde a separação, quem éramos, o que havia mudado, o que continuava igual. Falamos dos filhos e dos casamentos falidos, mas não contei que estava separada, ele me disse que estava se separando. Apenas ao nos despedirmos ele perguntou do meu ex-marido (que era seu colega de faculdade) e eu contei da separação. Ele deu um grito do outro lado, me disse que me amava como sempre amou e que esperava há 14 anos por esta chance…

Conversamos por mais uma hora no telefone, mas agora sobre nós, encontros e desencontros… e que já estávamos velhos para desperdiçarmos esta nova chance que o destino nos dava de presente.

O resto é a história de um grande amor que demorou quase 20 anos para se concretizar.

Evidentemente os primeiros anos não foram fáceis. Só quem já se separou com filhos sabe do que estou falando… o tamanho da culpa que sentimos por nos permitirmos ser felizes! Tivemos brigas homéricas, horríveis, desgastantes. Mas enfrentamos tudo e nunca duvidamos do amor que nos unia e hoje sabemos que era preciso passar por tudo que passamos, caso contrário não teríamos maturidade para manter nossa união.

Se eu me arrependo de não ter voltado antes? Sim e não. Sim, porque poderíamos ter vivido juntos os anos mais saborosos da vida de qualquer um, seríamos os primeiros em tudo… Não, porque minhas escolhas, naquele momento, faziam sentido para mim, não foram escolhas equivocadas, apenas passageiras. E foram as minhas experiências de vida que me trouxeram maturidade para compreender o verdadeiro significado do amor que une estes casais que comemoram bodas de ouro ainda apaixonados. O mesmo é verdade para ele. Quem nos conhece bem sabe o quanto era necessária esta maturidade.

Meu casamento é maravilhoso e o que nos une é amor, apenas isso (apenas?)… amor de verdade, daqueles raros de se encontrar hoje em dia. Demorei 14 anos, mas quando me permiti dar uma chance, o Leo não me decepcionou e me mostrou o que significa sentir-se amada incondicionalmente e amar em igual intensidade.

Ainda brigamos como cão e gato, como sempre fizemos… acho que é nossa marca registrada, somos iguais e diferentes em igual intensidade. A diferença é que hoje sabemos o quão importante é a nossa relação, o quanto ela vale a pena e  merece ser cuidada e preservada.

De tudo, tenho apenas uma certeza na vida: ele é o homem com quem quero envelhecer, olhando o pôr do sol sentada na varanda. Ele é o único homem com quem quero estar quando a beleza e a juventude sejam apenas lembranças.  Porque de suas inúmeras qualidades as que mais admiro é sua dedicação, sua lealdade e companheirismo.Nossa relação não é de conto de fadas (como nenhuma é), mas tenho segurança absoluta em seu amor e isso é o que importa.

Leo, te amo.