Google+ minha casa, meu mundo: O Cravo não Brigou com a Rosa

8 de abril de 2011

O Cravo não Brigou com a Rosa

Recebi este texto por e-mail, então não posso atestar a autoria. Mas resolvi publicar aqui no blog, porque resume bem o que penso sobre o politicamente correto e patrulha ideológica. E sempre me chama a atenção o fato de que para tudo há limites, menos para a estupidez humana.

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA

Texto de Luiz Antônio Simas

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto.

Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha.
Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil.
Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias o u coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não.
Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços,
Luiz Antônio Simas

(Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio).

19 comentários:

  1. Olá.
    Por cá (Portugal) também temos essa do politicamente correcto. E então agora com o novo acordo ortográfico, é de morrer a rir com tanta asneirada......

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Converso muito com marido sobre isso. Uma vez comentei que nos dias de hoje, Os Trapalhões nem teriam existido. Parabéns pelo post, me fez esquecer um pouco a tragédia na escola. Bj e ótimo fds.

    ResponderExcluir
  3. É menina, tá difícil...cada vez mais difícil. Dá até medo de conversar com as pessoas na fila da padaria ou onde quer que seja. Vai que ela se ofende e resolve me processar???? Eu hein!
    Bjos
    P.S.: Amo seu blog...

    ResponderExcluir
  4. Muito bom o texto, aliás ÓTIMO!!!! Me lembrou que, sou de 1962, crescí cantando essas músiquinhas, brincando de roda e forma bem poucos os daquela época que se marginalizaram e mesmo esses não foi por obra das músicas. Violência sempre teve, massacres, bullings (nem sei como se escreve), eu mesma sofrí com o Rita pirrita, ou Rita sem calça. Ainda por cima era maaaaaaga, então era facilmente chamada de Contra-peso-de-baleia ... mesmo assim não saí atirando pedras nem em bicho nem em gente. O que faz a maldade, apesar do ambiente também ser determinante, são as PESSOAS, deste ou daquele tempo, desta ou daquela religião, tendo ou não mãe doente.... ou boa. Acredito que hoje, em tempos bem modernos e politicamente correto haja muito mais preconceito do que quando nós atirávamos o pau no gato. Cantávamos mas nem de longe percebíamos que era PAU no GATO, era só uma musiquinha e nada mais.
    bj bj bj

    ResponderExcluir
  5. sou de 1974, nunca parei pra pensar nas letras das musiquinhas, mas brinquei tanto, cantei tanto, apelidei e fui apelidada tbem, e estou muito feliz hoje...ainda bem..ui.

    ResponderExcluir
  6. Saudades dessas musiquinhas, rs... adorei o post! beijinhos, Nane www.vovoqueensinou.blogspot.com

    ResponderExcluir
  7. Sou de 1972.Sabe quando descobri que o real sentido de atirei o pau no gato?a 3anos quando ensinei meu sobrinho a cantar e tomei o maior bronca da mãe dele. disse que estava incitando a violência. Sempre cantei a musica e nunca deixei de amar os gatos. Ser politicamente correto esta virando paranóia. vai chegar o momento em que não poderei nem chamar a atenção de meus filhos affffff. Independente da autoria parabéns pela escolha do texto. Um beijo da Eliane.

    ResponderExcluir
  8. Cada coisa a seu tempo. Concordo plenamente com o escritor. Há necessidade de se explicar, não de omitir, de se respeitar, não de se magoar. Eu nunca modifiquei nenhuma musiquinha para meus filhos, o que aprendi passei para eles e não saem por aí oprimindo ninguém, muito pelo contrário, são político e socialmente conscientes! beijos

    ResponderExcluir
  9. A D O R E I !!! Eu tenho umas amigas que são terríveis e quando nos juntamos para botar a conversa em dia, invariavelmente nos referimos a algumas pessoas por esses apelidos todos que ele falou aí. E nos divertimos muito com isso mesmo sabendo que nos enquadramos em alguns deles. kkkk. bjs

    ResponderExcluir
  10. Muito bom! Aqui tem uma baixinha de 2 anos que canta assim: " Atirei o pau no gato, o que isso, não se faz, o gatinho é nosso amigo, não devemos maltratar os animais, miau" rsrsr. Eu canto o contrario e ela fica brava dizendo que tá errado que a tia não ensinou assim. Mas daqui a pouco ela cai na real e verá que a nossa versão é mais interessante.

    ResponderExcluir
  11. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk..........
    Ri muito agora com o comentário da Vivileca!
    Adorei a postagem. É algo para se pensar....

    ____
    http://extensaosaladeartes.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  12. Oi querida, sou leitora do seu blog há tempos...
    Vc me inspirou a montar o meu, passando por aqui praticamente todas as noites. Agora sou sua seguidora. Ficaria honrada se me fizesse uma visita, sei que com tantos seguidores e uma vida corrida fica difícil retribuir à todos, mas se puder...
    Beijos bfs

    ResponderExcluir
  13. Amei o texto...sou de 1980 e ouvi e cantei muito estas músicas, apelidei e fui apelidada e isto não me trouxe nenhum trauma, sabe porque? porque nasci em uma família estruturada....Não estruturada em $$$ minha família não é rica, mas soube me ensinr valores, souberam me amar e me ensinar o que é certo.
    Hoje em dia querem ser politicamente corretos no caso das musiquinhas escolares etc, mas ninguem se preocupa com os pais destas crianças, como e o que estas crianças estão vivenciando no ambito familiar....que eu acredito que conta muito na formação de uma pessoa. Muito mais que as simples músicas ou apelidos que esta possa ouvir ou ter. E pra finalizar ninguém está interessado pela boa educação, pela qualidade do ensino no nosso País.

    beijos
    Ellen

    ResponderExcluir
  14. Caracas!!!!...se é que posso...rsss que massa esse texto.
    Luciana achei seu blog aqui por acaso, mas que sensibilidade a sua!!! Estou apaixonada!! É a mulher que eu quero ser um dia...rs Qual é o segredo disso tudo, ser mãe, amante, dona de casa e profissional, etc...são tantas qualificações.
    Tenho 28 anos, um casal de filhos, trabalho em casa, e estou a procura de paz...rss Digo isso porque pra ter um blog desses LINDO e super atualizado e dar conta disso tudo... vc é demais. Parabéns!!! Ainda consigo deixar meu blog ajeitadinho um dia.

    ResponderExcluir
  15. A virtude esta no meio já dizia minha vó. Até monteiro Lobato está sendo acusado de segregar e ser racista tudo por causa da tia Anastácia, acabar com a reputção de um escritor deste que tal?

    ResponderExcluir
  16. Adorei o texto... e realmente essa historia de não pode isso, não pode aquilo... é um saco!
    Sou de 69, também cantei muito todas essas musicas que fizeram parte da minha infância... graças a Deus...
    Lá em casa nós eramos 3 e meus pais nunca foram de nos bater, mas uma palmadinha de vez em quando funcionava... hoje em dia não se pode dar palmadas nos filhos, e quando eles crescem, matam pai, mãe, avó... por dinheiro, drogas e etc.
    Os valores estão perdidos e aí ficam inventando regras, como se isso resolvesse.

    ADORO SEU BLOG... bjins e boa semana

    ResponderExcluir
  17. E olha que no texto ele só fala das músicas, ainda tem a parte das histórias infantis que estão sendo "remodeladas". Nin guém pensa que elas tem uma função no psicológico da criança, que é justamente o de trabalhar seus medos, suas raivas, seus sentimentos "ruins" que nunca deixarão de existir, mas com os quais precisamos saber lidar. Assim, as crianças estão perdendo a cghance de amadurecer, de crescer, resultando assim, nessa leva de adultos infantis, imaturos e inconsequentes que não sabem lidar com sentimentos e problemas. Lamentável.

    ResponderExcluir
  18. verdade seja dita: politicamente correto e humor não andam lado a lado sou de 84 e recebi muitos apelidos dei muitos também e tô aki vivinha da silva feliz casada com um "negão" que eu amo e eu sou sim branquela azeda rsrsrs acho que o preconceito e o incorreto está muito evidente hoje em dia, se usa demais esse tipo de desculpa e nem assim o mundo tem melhorado? na época que a Lelê levava palmada não tinha tanto ladrão, drogas, trombadinha, ou melhor "menor infrator" rsrs se o mundo tivesse pelomenos em alguns aspectos mantido seu "passado" tenho certeza que nosso presente e nosso futuro seria bem melhor...
    Grande bju o post foi ótimo!!
    Thais Costa

    thaisramoscosta@hotmail.com

    ResponderExcluir

Obrigada pela visita!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

ShareThis