Google+ minha casa, meu mundo: Para Lembrar que os Filhos são do Mundo

11 de maio de 2011

Para Lembrar que os Filhos são do Mundo

Acabei de receber este texto da querida Eni e achei tão lindo que quero compartilhar:


Antes que elas cresçam

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças crescem. Independentes de nós, como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.

Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Pois ali estamos, depois do primeiro e do segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos erros.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Longe já vai o momento em que o primeiro mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer “bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.

O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.
Affonso Romano de Sant'Anna

17 comentários:

  1. Lu , o texto é simplesmente maravilhoso.
    Faltou falar que dói , dói até a primeira vez que eles pegam a chupeta e colocam certinho na boca , pronto , já não precisa mais de mim.
    mas continuo firme na posição , se o mundo quer filhos que os tenha.
    vai lá fazer um planetinha básico e larga a minha.kkkkkk
    Mil beijos

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  2. Adorei adorei... sem palavras, esta tudo bem explicado neste texto.
    Lembro do 1 sorriso do meu filho, chorei de alegria, hoje ele escolhe a sua roupa e veste se sozinho, a autonomia e a sua independencia bem vincada e nós sentimos separadas deles, mas a vida é assim nasce, cresce, vive e morre...
    Com os filhos a mesma coisa, ver a crescer e sentir na nossa barriga, sentir o seu nascimento, o seu sorriso, o gatinhar, o andar a primeira papa, a primeira palavra, e os seus abraços e beijos mas para sempre serão os nossos bebes.

    bjs e obrigada por partilhar este post magnifico

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  3. Oi, amiga,como este texto me fez chorar. Ele exprime tudo que pensei desde que meu filho voou.Passei por todas estas fases como toda mãe.Vejo crianças, jovens com os uniformes que ele usou e vem uma saudade tão grande,mas na hora penso que tudo tem valido a pena e nos resta ficar na torcida,bjo.

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  4. Olá,querida!!

    Adorei seu blog e sobre o texto estou 100 palavras!!

    Uma quinta -feira abençoada por Deus!!

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  5. lindo texto...posso dizer que estou passando pela fase do primeiro uniforme do maternal....vou tratar de aproveitar muito mais o meu pequeno após esse texto.... obrigada!!

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  6. Lu, esse texto é muito bom.

    quando vemos nossos filhos adultos pensamos em quanto ainda poderíamos ter feito.

    tem uma linda música do ABBA que choro cada vez que ouço, os filhos vão escorregando pelos vãos dos nossos dedos...

    Slipping Through My Fingers
    vc viu o filme?
    adoro essa parte
    http://www.youtube.com/watch?v=YTOl70SyT-4&feature=related

    tenho o dvd, já vi nem sei quantas vezes e sempre choro nesta cena com esta musica

    a gente sente orgulho de ver os filhos indo mundo afora e sendo felizes, mas a saudade de momentos deles pequenos perto dá uma dorzinha.

    agora já sou avó e estou reeditando o meu afeto.

    *******************************
    mudando de assunto...rs

    Lu, faz tempo que não faço mais postagens sobre selinhos para blog, mas recebi de uma amiga que mora lone e me deu vontade de fazer lá no Juju. Como na regra tem que indicar blogs, fiz a minha lista e o seu está lá, mas isso não quer dizer que precisa fazer um post ou usar o selo, vejo como uma forma de carinho por vc e reconhecimento de que seu blog é bacana e eu gosto muito, por isso indico, é também uma maneira de conhecermos mais blogs.
    Vai lá dar uma espiadinha quando puder.

    http://jugehrke.blogspot.com/

    beijo
    Ju

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  7. oi Lu, o comentário acima é meu, estava com o outro perfil

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  8. Nossa... que maravilhoso esse texto... até me emocionei! Obrigada por compartilhar. Adoro o seu blog e já estou seguindo ha um tempão. Um beijo.

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  9. Já conhecia o texto e ele traduz exatamente o que virá a acontecer. Emocionante, não me canso de reler....beijosssssss

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  10. Bom dia...adorei o texto....não quero nem ver a hora que o meu não precisar mais de mim.....buáaaaa..bjs

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  11. Aí to daqui me desmanchando em lagrimas, estou mais ou menos do meio pro fim de toda essa etapa, é impossivel não sofrer com a ausencia deles, e não ama-los incontrolavelmente.

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  12. Minha amiga, li o texto e respirei fundo e chorei...
    Eu e meu esposo somos esses pais orfãos dos filhos... hoje moramos longe de 3 lindas e preciosas filhas.... e como doi e como sofro e como sinto falta do barulho, das risadas, dos pedidos, do telefone sempre tocando pra elas... tem sido difícil essa nossa nova vida sem as meninas... estamos morando no inteiror da Paraíba e não podíamos trazê-las juntos, já são adultas.... estão trabalhando, terminando os estudos..... então estamos aqui sozinhos...
    Vivendo a síndrome do ninho vazio... espero sobreviver e voltar a ser feliz...
    Um beijo
    Telma

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  13. Aiiiii...meu Deus como tudo isto é verdade!!!!!Me vi aqui,voltei no tempo,senti saudades.
    A minha hora de ser avó já chegou para que eu possa ,como diz o texto, reeditar o meu afeto.E como estou!!!!!!!!!

    Obrigada querida por este presente!
    beijo
    Necca

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  14. Nem posso pensar nisso,me doi o coração....toda hora olho pr minha Maitê e assusto,como cresceu rapido,já vai fazer 6 anos,estou apavorada de perder meu pequenino passarinho tagarela,brincalhão e aqui do nosso lado,sem problemas com festas,namorados,rua....Deus nos de força,vai ser dificil ver meu passarinho unico voar.
    Amiga,eu não ligo mais pra isso,precisei viver meus 40s anos para perceber que não vale a pena se preocupar se o papo que você tem,a roupa que você usa,e tudo o mais agradara ou não aos amigos e esposas do marido,sou simples,isso pra mim e um elogio,tento ser e estar o melhor possivel,mas agora já não fico nervosa ou saio comprando roupas e coisas para ficar linda e ser apreciada,agora eu sei que meu marido me ama,sendo assim como sou...não sou feia,sou aquela que passa um bom baton,uma maquiagem bem natural,um cabelo bem escovado,uma sandalia não muito alta e uma roupinha que me agrade..taco um maravilhoso,fabuloso perfume e...desbanco qualquer uma...kkkkk,porque?....porque eu não rebaixo,eu não fico agradando,elogiando mimando...eu apenas sou eu mesma....simples mas feliz demais da conta.srsrs
    Beijinhos.
    Deusa
    vasinhos coloridos

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  15. ai, eu nem cheguei ao ninho vazio, mas como choro, choro de pensar que meus pequenos estão crescendo, que em muita coisa já não precisam de mim, que a minha pequena já amarra o sueter na cintura e teima com a mochila incomoda, mas ainda bem que estão crescendo lindos e saudáveis...pensamento conformista...rs

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  16. eu já tinha recebido este texto por mail e bateu uma melancolia! Apesar de os meus serem bem pequenos e dependerem muito de nós ...já sinto o vazio do futuro... o M. já me diz conversas que me deixa a pensar -estão a crescer rápido demais -quero só que crescem felizes, saudáveis e sejam bons seres humanos ...

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  17. Que lindo texto!
    Estou emocionada...tenho 2 filhas, uma de 8 anos e uma de 12 anos que já está criando asas...é tão difícil a adolescência!!! Estou na luta para entender o que ela não me diz...sempre fui uma mãe muito presente fisicamente falando, optei me afastar do trabalho para me dedicar as minhas filhas e apesar de sempre entrar em questionamentos se foi o melhor que fiz...vejo hoje que sim, foi a melhor coisa que fiz na vida, porque vi, curti, chorei, sofri, amei, participei dessa época linda que é a infância delas. E passa rápido, retornei a trabalhar e deu tudo certo.
    Lindo seu blog, descobri agora e estou lendo sem parar...
    Beijos,
    Vel

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Obrigada pela visita!

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